terça-feira, 13 de dezembro de 2011

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Cafeína na Livraria Cultura.

Cafeína na FLICA.

16/10/2011 18h49 - Atualizado em 18/10/2011 08h06

Tom 'escrachado' marca penúltima mesa da Flica, no Recôncavo Baiano

Reinaldo Moraes e Victor Mascarenhas falaram sobre suas inspirações.
Segundo escritores, gancho pornográfico tem como objetivo o humor.

Tatiana Maria Dourado De Cachoeira para o G1 BA

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Penúltima mesa da Flica (Foto: Vinicius Xavier)Mesa composta por Victor Mascarenhas e Reinaldo Moraes foi uma das mais aguardadas pelo público
(Foto: Vinicius Xavier)

Pai descrente, mãe carola, tio desbocado ou avó italiana analfabeta. Personagens com esse perfil, baseados na vida real, são a base para a construção literária de Reinaldo Moraes, escritor reconhecido pelo tom de 'escracho, escárnio e pornográfico', tema muito aguardado pelos participantes da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), debatido na tarde deste domingo (16). “A ideia de influência sempre implica em uma certa imitação, o que eu leio é o que a maioria dos leitores leem”, opina o autor de 'Tanto Faz', 'Abacaxi' e 'Pornopopéia'.

Apesar de preferir não tratar os gostos literários como influência para a elaboração de uma obra, Moraes recorda que a primeira vez que percebeu que a escrita do país pode ser "jovial, inventiva e tesuda" foi ao ler "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis. “Foi a primeira vez que vi que a literatura brasileira pode ser interessante. Mas sempre li muita poesia, é o laboratório da linguagem. O poeta é herói e a poesia é a academia de musculação para o prosador”, afirma Moraes.

O poeta é herói e a poesia é a academia de musculação para o prosador"
Reinaldo Moraes, escritor

Reinaldo Moraes participou da 15ª e penúltima mesa da Flica 2011, acompanhado por Victor Mascarenhas, publicitário, escritor e roteirista soteropolitano, autor do livro de contos "Cafeína". A mesa não teve mediador e o bate-papo foi desencadeado por perguntas recíprocas e pela participação do público presente. “Segundo a Flica, somos prostitutos do ofício”, declara Mascarenhas, citando texto de apresentação da mesa, que os classifica também como 'literatura underground'. Para ele, o fato de ser classificado desse modo é pelo caminho paralelo que constrói aos estereótipos de baianidade. “De repente pelo fato de não ter nenhum berimbau ou praia nos meus livros, gostar de engarrafamento e fumaça, e morar em Salvador, eu esteja à margem. Sou um bicho da cidade, talvez um pombo ou um poodle”, avalia Mascarenhas.

Sobre o assunto, Reinaldo Moraes comenta que existem pessoas que vivem aquém de uma sociedade formal, que são os ladrões, os traficantes, as prostitutas, mas que há uma literatura que dá conta disso. “Falar sobre isso não é ser underground, porque está escrito em bom português, o leitor está entendendo”, avalia. Reinaldo Moraes, que também produz textos para novelas, conta que seu livro parte sempre de um personagem, nunca de uma história e exemplifica com "Pornopopéia", seu romance mais recente. “O pontapé inicial era o personagem sem superego, amoral. Casado, mas cagando para o casamento. Tem filho, mas a única coisa que faz é passear com ele na escada rolante. Come a mulher do amigo. Foi uma política de fazer terra rasa com os sentimentos e substituí-los por sensações, pelas demandas do corpo”, explica.

De repente pelo fato de não ter nenhum berimbau ou praia nos meus livros, gostar de engarrafamento e fumaça, e morar em Salvador, eu esteja à margem. Sou um bicho da cidade, talvez um pombo ou um poodle"
Victor Mascarenhas, escritor

Por sua vez, Victor argumenta que quando pensa em uma história, já elabora um possível final, mesmo que provisório. “É minha segurança, preciso saber onde ela vai chegar. Mas a grande matéria-prima é ouvir as pessoas. Às vezes parto de outras histórias, pastiches, descaradamente, mas não é uma cópia”, confessa. Os dois convidados provocaram a plateia a partir das passagens de cunho erótico presentes em seus livros. Victor leu alguns trechos e Moraes citou uma poesia do pernambucano Limoeiro, segundo ele a única que conseguiu memorizar, com os versos: “Nesse mundo anda tudo errado. Na França, pescoço é cou, aqui cú é cú mesmo”.

Perguntados se o teor sexual poderia classificar a literatura dos autores, além de underground, também como erótica, os autores afastaram os rótulos. Mascarenhas conta que termos e expressões utilizadas nesse cunho são elementos da narrativa e que eles não são eróticos, mas “putaria” mesmo. Moraes acrescenta, explicando que o objetivo não é excitar o leitor. “Não sei se temos esse poder. Em longas cenas de surubas, por exemplo, o gancho é mais para fazer humor, comédia”, conclui.